Em meio ao cenário que estamos enfrentando, profissionais de diversas áreas da saúde enfrentam a Covid-19 ao cuidar de pacientes, entre eles, os fonoaudiólogos, que desempenham um papel essencial para a assistência e recuperação dos internados. Composta por cinco profissionais, a equipe de fonoaudiólogas do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV) que integram equipes multi e interdisciplinares, se encontram na linha de frente no combate à Covid-19 desde o início de 2020. A fim de esclarecer conceitos e demais questões sobre a atuação dessa especialidade, a fonoaudióloga da instituição, Amanda Silveira, esclarece a importância desses profissionais no âmbito hospitalar.
Segundo o Conselho Nacional de Fonoaudiologia (CREFONO), a profissão é responsável por pesquisar, prevenir, avaliar e tratar as alterações da voz, fala, deglutição, linguagem, audição e aprendizagem, desde os recém-nascidos até os idosos. A atuação de um fonoaudiólogo pode ocorrer em diversos locais, como hospitais e postos de saúde, consultórios, clínicas multiprofissionais, escolas especiais, equipe escolar, além de grupos de teatro e canto. Na graduação, o estudante aprende a cuidar do indivíduo no que se refere à linguagem oral e escrita, voz e audição, prevenindo, habilitando, reabilitando e aperfeiçoando, sem discriminação de qualquer natureza, conforme prevê o Código de Ética profissional.
No ambiente hospitalar, a equipe atua na avaliação e reabilitação de pacientes neurológicos incluindo traumatismos cranianos, AVCs, doenças demenciais como Parkinson e Alzheimer, neoplasias, cuidados paliativos, Covid-19, além de pré e pós-operatório. A atuação hospitalar é realizada nas enfermarias, nas unidades de terapia intensiva (UTIs), emergência, internação domiciliar e pronto socorros. “A fonoaudiologia realiza interface com todos os pacientes internados no hospital, implementando atendimentos que visam a prevenção de pneumonias causadas por alimentos que entram nas vias aéreas devido falha no mecanismo da deglutição, o prazer oral de pacientes em fase final de vida, já que possuem desejos alimentares específicos, e o alinhamento de consistências alimentares para pacientes que necessitam de maiores cuidados e já apresentam fatores de riscos para possíveis alterações da deglutição”, explica Amanda.
No atual contexto da pandemia, a profissional exemplifica que alguns pacientes, a partir da piora do quadro geral, são submetidos à intubação orotraqueal por tempo prolongado, o que pode impactar diretamente em sua qualidade de vida. “Além disso, o padrão respiratório alterado também auxilia para o aumento da dificuldade em deglutição, uma vez que o corpo está programado para aumentar a demanda respiratória fazendo com que haja um desequilíbrio entre deglutição e respiração”, comenta.
A especialista ainda esclarece que a reabilitação fonoaudiológica acontece por meio de diversos exercícios e técnicas ativas e passivas. “O fonoaudiólogo integra a equipe multiprofissional, atuando de forma interdisciplinar, para a promoção, proteção e recuperação da saúde com o objetivo de prevenir e minimizar as possíveis complicações e sequelas, a partir do gerenciamento da alimentação e da comunicação, sendo sempre de uma forma segura e visando o bem-estar do paciente”.
O Sr. Pedro Matias, de 62 anos, esteve internado na instituição com suspeita de AVC e precisou aderir uma dieta específica, a qual contribuiu para o efeito das medicações que tomava. Ele seguiu hospitalizado por sete dias, onde recebeu alimentação via sonda nasoenteral. Após receber autorização para deglutir alimentos, Pedro precisou do auxílio das fonoaudiólogas neste processo devido ao grande período sem o uso desta função, passando para dieta pastosa e água com espessante (substância que aumenta a viscosidade de um líquido sem alterar suas outras propriedades). Neste caso, a atuação das profissionais tem como objetivo identificar, por meio da história do indivíduo e da avaliação específica da deglutição, as informações que auxiliarão o planejamento de adaptações e condutas terapêuticas a serem utilizadas no tratamento. Além disso, hábitos como realizar as refeições com calma, mastigar bem antes de engolir e dar atenção à saúde bucal são algumas instruções que devem ser adotas.
“Agradeço primeiramente à equipe do HSV por cuidarem tão bem de mim, tanto nos meus dias de internação, quanto após a minha alta. Ressalto que são profissionais muito importantes, não somente em meio a pandemia, mas no nosso dia a dia. Admiro demais a doutora Amanda, a qual criei um laço de amizade e sigo em tratamento até hoje. Recebo todo auxílio e ajuda necessária para o tratamento e sempre fui bem acolhido. Parabéns a todos pela dedicação e paciência nesse momento tão complicado, pelo carinho e cuidado com os pacientes. Sou grato também aos demais profissionais do hospital pelo atendimento e zelo que tiveram comigo”, agradece o paciente.
A respeito do momento vivenciado, Amanda compartilha sua experiência profissional e pessoal. “O medo de levar alguma coisa para a casa, para os familiares e amigos é realmente intenso. Além disso, a ausência de contato direto com o paciente e as pessoas no geral, ficou distante devido às imensas “barreiras” criadas pelo passo a passo das paramentações. Por outro lado, em meio a pandemia, poder estar ao lado do paciente e ajudá-lo não tem preço, é muito gratificante. Particularmente foi muito desafiador, pois eu entrei no hospital em julho de 2020, no auge da pandemia. Sou eternamente grata a Deus por ter tido esta experiência dentro de um ambiente que eu sempre me interessei e desempenhando a minha profissão com muito amor e dedicação. A felicidade no rosto de cada paciente que consegue engolir, falar e se comunicar jamais terá valor. É uma honra para mim”.