Vivenciar algo tão emblemático como a pandemia trouxe muitos medos e questionamentos para a população de todo o mundo. No começo eram só alguns dias, algo passageiro, nada tão grave ou que fizesse com que o isolamento se tornasse uma nova realidade. Em meio à tantas dúvidas, a única saída para evitar a contaminação pela COVID-19 foi deixar de sair de casa, seja para utilizar serviços essenciais como supermercados e farmácias, ou em situações mais graves, como ir ao médico. Ironicamente, cuidar da própria saúde ficou em segundo plano durante os períodos mais críticos da doença. A diminuição no número de exames de mamografias registrados no Brasil é reflexo desse novo cenário.
Fundamental para o diagnóstico precoce do câncer de mama, a mamografia é o exame de imagem responsável por detectar um nódulo, antes mesmo que a mulher tenha sintomas. Segundo dados do Ibope Inteligência, mais de 62% das mulheres deixaram de fazer exames preventivos em 2020. Além da pandemia e das consequências que a doença trouxe, outros fatores contribuíram para que incidência de câncer de mama aumentasse 40% no país, conforme estudo realizado por pesquisadores brasileiros com dados do Global Burden of disease (IHM/USA). Fazem parte da lista as doenças crônicas e hábitos ruins como o sedentarismo e o consumo de álcool. A ginecologista do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), Gabriela Pravatta Rezende, conta que o câncer de mama é o segundo câncer mais frequente em mulheres no Brasil, possuindo uma alta taxa de mortalidade, perdendo somente para o câncer de pele.
“Entre mulheres, a média registrada pelo Instituto Nacional de Câncer é de 18 mil mortes por ano. Hábitos saudáveis como evitar o tabagismo, praticar atividades físicas, manter uma alimentação saudável e fazer exames rotineiros, podem ajudar a prevenir a doença. O câncer de mama muitas vezes pode ser silencioso, não apresentando nenhum sintoma, então precisamos estar em dia com os exames de rastreamento para evitar a descoberta do tumor em uma fase mais avançada”, alerta a médica.
A primeira iniciativa de identificação do tumor surge por meio do autoexame, que muitas vezes indica o câncer de mama em estágios iniciais. Mas, conforme orienta a ginecologista, o método não substitui o exame. “É importante que as mulheres conheçam o seu corpo, que estejam atentas a qualquer alteração nas mamas. O cuidado é básico, por isso, reforço que a visita a um especialista é indispensável e deve ser realizada pelo menos uma vez por ano. A mamografia é o único exame que reduz a mortalidade por câncer de mama em mulheres com mais de 40 anos”.
A análise do resultado verifica a densidade mamaria, a presença de calcificação, nódulo, cisto ou qualquer possível alteração. Os estágios para detecção são colocados em uma escala de 0 a 6, sendo este último indicado para confirmação da existência do câncer. O processo segue a classificação internacional “BI-RADS”, responsável por padronizar a comunicação entre o corpo clínico.
Tratamento
Após a detecção da doença, é necessário que a paciente inicie o tratamento mais indicado para seu subtipo de tumor.
Entre as alternativas estão a quimioterapia, radioterapia ou hormonioterapia, além do procedimento cirúrgico. “Em casos de tumores muito avançados, onde existe risco de vida, o ideal é realizarmos apenas o tratamento radioterápico e quimioterápico, a fim de evitar complicações”, explica Dra. Gabriela.
A especialista conta que algumas cirurgias são conservadoras, retirando apenas uma pequena parte da mama, chamada de quadrantectomia, ou uma porção da mesma, neste caso denominada setorectomia, além da conhecida mastectomia, onde toda mama é retirada. “Em casos de tumores iniciais, quando ainda são muito pequenos, podemos realizar um procedimento conhecido como agulhamento, onde tiramos somente a lesão, sem atingir qualquer área da mama”, completa.
Outubro Rosa
Em apoio à campanha mundial, o Hospital São Vicente organiza, todos os anos, ações internas voltadas para a conscientização e prevenção ao câncer de mama. Entre as atividades de 2021, estão a iluminação com a cor da campanha para a fachada da instituição, distribuição de materiais informativos, murais decorados, palestras e sextas-feiras especiais, onde todos os colaboradores podem vestir alguma peça de roupa rosa. As ações foram desenvolvidas pelo time de humanização, departamento de saúde ocupacional e assessoria de imprensa.
Assim como no último ano, a instituição também irá viabilizar que todas suas colaboradoras, com idade a partir de 40 anos, realizem o exame de mamografia. “Temos um compromisso com a saúde e bem-estar de nossas colaboradoras e, por isso, nosso papel é estimular a realização do exame preventivo. Viabilizando o procedimento, estamos contribuindo para um diagnóstico precoce, para a prevenção e, em casos mais graves, o tratamento”, afirma o superintendente do HSV, Matheus Gomes.
A auxiliar de limpeza, Nair Costa, descobriu o nódulo por meio da iniciativa. “No ano passado, aproveitei a oportunidade e fiz o exame por meio do hospital. Infelizmente, foi identificado um nódulo benigno, mas não precisei de cirurgia ou tratamento. O médico pediu para que eu continuasse observando. O hospital me ajudou muito durante esse período, tanto com apoio psicológico por meio da saúde ocupacional, quanto com os exames que eram necessários. Vou continuar em acompanhamento por dois anos. Esse ano farei o exame novamente para ver como está o nódulo”, compartilha.