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HSV orienta sobre os cuidados com a saúde da população negra

Instituído em 20 de novembro de 2011, o Dia da Consciência Negra é um convite para celebrarmos e relembrarmos a importância do povo africano para a evolução da cultura brasileira, além de evidenciar a luta das pessoas negras na conquista pela liberdade e igualdade racial. Os impactos históricos dessa batalha são temas para debates nas mais diversas esferas sociais, incluindo a saúde.

Já ciente das dificuldades encontradas por esses pacientes e visando garantir a equidade e a efetivação do direito à saúde desse público, o Ministério da Saúde criou, em 2009, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) para o Sistema Único de Saúde (SUS). As diretrizes incluem ações de cuidado, atenção, promoção à saúde e prevenção de doenças, além de outras instruções essenciais para o desenvolvimento das práticas.

De acordo com dados do órgão nacional, atualmente o tratamento pelo SUS de doenças que mais afetam a população negra, como é o caso da anemia falciforme, por exemplo, alcança cerca de 40 mil pessoas. Na lista, ainda constam outras quatro doenças. “As morbidades, como a obesidade e o sedentarismo, são fatores de risco para desencadeamento das patologias, principalmente nos casos de hipertensão e diabetes. Sabemos que muitas doenças são genéticas ou hereditárias, mas, segundo o Ministério de Saúde, o processo de adoecimento dos indivíduos negros também possui forte influência dos fatores de risco modificáveis, como estilo de vida, fatores ambientais e ocupacionais, por exemplo”, explica o nefrologista e clínico médico do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), Dr. Reneu Zamora Júnior.

Anemia Falciforme

Predominante entre negros, a doença genética e hereditária, é caracterizada por uma alteração nos glóbulos vermelhos, que perdem a forma arredondada e elástica, adquirem o formato de ‘meia lua’ e endurecem, o que dificulta a passagem do sangue pelos vasos de pequeno calibre e, consequentemente, a oxigenação dos tecidos. A prevalência da anemia falciforme na população negra e mestiça dá-se por conta de uma mutação genética que surgiu no continente africano ainda no período da escravidão.

Dentre os sintomas estão cansaço, palidez, sono, dores nos ossos e articulações, olhos e pele amarelados e infecções frequentes. No tratamento são utilizados medicamentos e em alguns casos pode ser necessária a transfusão sanguínea. O transplante de medula óssea também é uma opção indicada para alguns casos graves e selecionados pelo especialista.

Hipertensão Arterial Sistêmica

Conhecida popularmente como “pressão alta”, a doença crônica é caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas artérias. É comum entre as doenças cardiovasculares e o principal fator de risco para diversas outras complicações que levam à morte, como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e pacientes que precisam de tratamento com diálise.

Prevalente na população negra, o estudo da revista Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research (BJSCR), aponta que a condição pode estar relacionada ao fato dos negros possuírem uma falha hereditária na captação do sódio e cálcio, bem como em seu transporte renal, o que auxilia no desenvolvimento da patologia.

A pressão arterial dificilmente apresenta sinais ou sintomas, por isso é importante que a população realize a aferição da pressão com frequência e acompanhe as possíveis oscilações. Em casos mais graves, os pacientes podem sentir enjoos, tonturas, dores de cabeça e na nuca, dificuldade para respirar, dores no peito e zumbido no ouvido. A doença não é curável, mas é possível mantê-la controlada por meio de medicamentos prescritos por um médico especialista e um estilo de vida saudável. 

Diabetes Mellitus (tipo II)

É definida pela produção insuficiente de insulina, pelo pâncreas, ou pela incapacidade do organismo de utilizar a insulina produzida de forma eficiente. A patologia, que também é crônica, atinge com mais frequência os homens negros (9% a mais que os homens brancos) e as mulheres negras (em torno de 50% a mais do que as mulheres brancas).

Silenciosa, na maioria dos casos, os sintomas da doença só aparecem quando ela já está avançada. O enfermo pode notar sede constante, boca seca, perda de peso, formigamento em pernas e pés, feridas que demoram a cicatrizar e cansaço frequente. O tratamento é feito com antidiabéticos orais prescritos pelos médicos, monitoramento constante dos níveis de açúcar no sangue e hábitos de vida saudáveis.

Glaucoma

O glaucoma é uma doença provocada pelo aumento da pressão ocular, causando danos ao nervo e fazendo com que o paciente reduza aos poucos o campo visual. Se não tratado, o glaucoma pode levar à cegueira. De acordo com o Estudo de Avaliação de Descendência Africana e Glaucoma (ADAGES) III, os negros têm quinze vezes mais chances de desenvolver deficiência visual associada ao tipo primário de ângulo aberto. As pesquisas apontam que o índice pode estar relacionado ao tamanho do disco óptico, grande volume de copos ópticos e a estrutura do tecido que dá suporte ao nervo dos olhos.

Alguns dos sintomas de glaucoma são perda gradual da visão, dor forte e súbita no fundo dos olhos, diminuição do campo de visão, olhos vermelhos e inchados, lacrimação e dificuldades para enxergar em ambientes escuros. Entre as opções de tratamento prescritos por especialistas estão o uso diário do colírio, medicação oral, terapia laser e, em casos avançados, cirurgia.

Câncer de Próstata

É o tumor que afeta a próstata, glândula localizada abaixo da bexiga e que envolve a uretra, canal que liga a bexiga ao orifício externo do pênis. Ocorre quando há uma multiplicação desordenada das células da próstata, culminando em tumor maligno que pode acometer apenas a glândula ou se estender local ou sistemicamente. De acordo com estudos populacionais, só no Brasil, cerca de 60% dos casos de câncer na próstata são em pacientes negros. O dado ainda gera dúvidas nos especialistas, já que não existem diferenças biológicas entre as raças.

No estágio inicial, o câncer de próstata não apresenta sintomas, que só são identificados em casos mais graves. O paciente pode observar micção frequente, fluxo urinário fraco ou interrompido, sangue na urina ou no sêmen e disfunção erétil.

Os tratamentos mais utilizados são as cirurgias e a radioterapia. Em casos avançados, quando o tumor já passou da próstata e se espalhou para outros órgãos, o tratamento mais indicado passa a ser a hormonioterapia. A quimioterapia só é indicada para casos onde a hormonioterapia já não resolve mais.

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