Na manhã desta terça-feira, 24, o Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV) foi o cenário de mais uma captação de órgãos que irá salvar outras vidas. Fígado, rins e córneas de um paciente de 37 anos, cuja doação foi aceita pela família, seguirão para Campinas e Sorocaba, renovando a esperança de 48.673 pacientes que aguardam por um transplante em nosso país. A família não autorizou a divulgação do nome do paciente, mas ressalta que o diálogo foi fundamental para a decisão da doação.
Devido ao tempo de isquemia, que é o período em que um órgão pode suportar entre ser retirado do doador e transplantado no receptor, o primeiro órgão captado pela equipe do Hospital de Clínicas da UNICAMP foi o fígado, cujo período isquêmico é de 8 horas. Em seguida foram os rins, que possuem um tempo maior, ou seja, 24 horas. E finalmente as córneas, 7 dias, que foram para o Banco de Olhos de Sorocaba.
O HSV conta com uma Comissão Intra Hospitalar de Transplantes (CIHT), criada em 2008, responsável por acompanhar pacientes com confirmação de morte encefálica e dar todo o suporte necessário para a família. A equipe tem diversos profissionais, incluindo assistente social, fisioterapeuta, psicólogos, médicos e enfermeiros. Sob o comando da enfermeira Thais Fernanda Rocha Santos, a CIHT aciona a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) de São Paulo e garante todo o suporte às equipes médicas durante a captação e manutenção dos órgãos, até que siga por transporte aéreo ou rodoviário à instituição que fará o transplante. No ano de 2021, a CIHT viabilizou a captação de 73 órgãos, num total de 14 doadores.
A enfermeira Luciana Santos, que integra a equipe da Organização de Procura de Órgãos (OPO) da UNICAMP, acompanhou todo o processo de captação. Ela explica que sempre que há um potencial doador, são realizados diversos exames. “É feito teste de covid-19, sorologia, tipagem sanguínea e muitos outros, a fim de garantir a segurança de quem doa e de quem recebe”, explica. “Também são verificadas informações como perímetro torácico, altura e peso, para que o receptor possa ser compatível”, completa.
Luciana diz que a equipe que vai captar os órgãos não tem acesso ao receptor. “É uma forma de garantir que não haja conflitos de interesses e que haja maior confiabilidade no processo”, diz. Porém, o que é sabido é que os pacientes que receberão os órgãos captados nesta manhã em Jundiaí, já devem estar nos hospitais em que ocorrerão os transplantes. “A doação de órgãos é um gesto de amor, na qual não se vê o rosto e o sorriso de quem vai receber. Também não há como o receptor dizer um ‘muito obrigado’ à família doadora, mas sempre há a certeza do sentimento de gratidão”, afirma.
Às pessoas que têm interesse em doar seus órgãos, Luciana diz que o mais importante é conversar sobre o assunto com a família, pois somente a família é que poderá autorizar ou não a doação. E isso deve ocorrer mesmo que a pessoa seja jovem, uma vez que não se pode prever as situações que desencadearão a morte encefálica. “Converse com a sua família, se você demonstrar que sua vontade é doar, certamente em um momento delicado como o da despedida, eles irão se lembrar. Isso dará um certo conforto e alívio, saberão que estão atendendo um desejo seu”, afirma.