Lembrado todo dia 31 de maio, o Dia Mundial sem Tabaco foi criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1987, com objetivo de alertar sobre as doenças relacionadas ao tabagismo. Além da conscientização sobre o abandono do uso do cigarro comum, o desafio está na popularização do cigarro eletrônico: o dispositivo oferece diversos riscos à saúde já identificados e muitos ainda difíceis de mensurar, que só serão compreendidos nos próximos anos, a partir de estudos.
O cigarro eletrônico é constituído de uma bateria que esquenta o coil, um tipo de resistência responsável por aquecer a essência para que seja obtido o vapor e sabor. A comercialização, importação e propaganda dos chamados Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) é proibida no Brasil desde 2009, mas isso não tem impedido o uso de cigarros eletrônicos por parte da população. Segundo dados do IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), o uso desses dispositivos no Brasil aumentou 600% em seis anos, de 2018 a 2023.
Diante do cenário preocupante, o médico pneumologista do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), Dr. Eduardo Leme, aponta prejuízos já percebidos à saúde. “Hoje, vemos que o usuário desse dispositivo acaba criando uma dependência da nicotina, o que é muito grave. O uso de vape também aumenta os riscos de infarto e de desenvolver problemas cardiovasculares, além do risco de câncer de pulmão e agravamento de quadros respiratórios já existentes, como asma e bronquite. Esses são alguns dos impactos já conhecidos, mas só com o passar dos anos nós teremos uma dimensão dos prejuízos causados”, explica.
O pneumologista do HSV, Dr. Eduardo Leme, alerta para a importância do combate ao uso do cigarro eletrônico
Além dos impactos já conhecidos, a rápida adesão ao cigarro eletrônico por parte da população mundial resultou no surgimento da Evali (sigla em inglês para Lesão Pulmonar Induzida Pelo Cigarro Eletrônico). A doença recebeu atenção significativa em 2019, com o aumento do número de casos nos Estados Unidos. “A Evali deixa uma lesão pulmonar grave, que em alguns casos pode levar a óbito. Além dos EUA, outros países também estão registrando casos, como o Brasil. Essa é uma questão que exige nossa atenção”, afirma o pneumologista.
Dr. Leme explica que a dificuldade em combater o uso dos DEFs é que, diferente dos cigarros comuns, eles não têm cheiro e gosto ruim. “Além de os cigarros eletrônicos terem formatos atrativos e cores vibrantes, os diversos sabores chamam a atenção dos usuários. Os jovens, em especial, estão sendo inseridos cada vez mais cedo no tabagismo. No futuro, esses usuários farão parte de uma geração viciada em nicotina”, aponta o médico.
O pneumologista reforça que, não importa por quanto tempo o usuário já foi adepto ao cigarro e ao cigarro eletrônico, nunca é tarde para deixar de fumar. “O ato de fumar é um dos vícios mais difíceis de serem abandonados, principalmente pelas sensações desagradáveis provocadas pela abstinência da nicotina. Mesmo assim, nunca é tarde para abandonar esse mau hábito, fazendo acompanhamento médico e contando com o apoio de familiares e amigos”, afirma Dr. Leme.