Hospital São Vicente realiza primeira captação de órgãos do ano

“… espero que por meio da nossa experiência as pessoas possam refletir sobre a importância desse ato…”, relata o pai do jovem de 19 anos

Na manhã desta terça-feira, 02, equipes especiais realizaram a captação de coração, pulmões, pâncreas, fígado, rins e córneas do paciente Wesley Henrique Furlan, 19 anos, internado desde o dia 23 de janeiro devido a um acidente de moto que culminou em morte cerebral, vindo a falecer neste dia 1º. Esta foi a primeira captação de órgãos de 2021 realizada no Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), em Jundiaí, por meio da Comissão Intra Hospitalar de Transplantes (CIHT). Os órgãos seguiram para São Paulo e Campinas e atenderão pacientes que aguardam na fila do Ministério da Saúde (MS), atualmente com mais de 46 mil pessoas. 

O pai, Reginaldo Furlan, diz que apesar de uma decisão dolorida, a doação foi um conforto.  “Nós nunca conversamos sobre isso (doação), talvez porque ele fosse muito jovem. Nós, eu e minha esposa, tomamos a decisão de doar os órgãos dele em conjunto e apesar de não ser fácil, eu espero que por meio da nossa experiência as pessoas possam refletir sobre a importância desse ato. O Wesley vai continuar vivo em outras pessoas e isso já nos conforta de algum jeito”, relata emocionado.

Dentre os profissionais que realizaram a captação dos órgãos, sob a supervisão da equipe do Centro Cirúrgico do HSV, o médico Ronaldo Honorato, cirurgião transplantador e cirurgião cardiovascular do Instituto do Coração (InCor) de São Paulo, destaca a importância da atuação da equipe do HSV. “O São Vicente é um polo de entendimento da questão de doação, a CIHT facilita muito o nosso trabalho. A equipe é habituada com todo o processo, desde a abordagem da família até o transcorrer cirúrgico, isso permite que tenhamos bons órgãos para serem transplantados”, declara o especialista.

Segundo ele, em tempos de pandemia covid-19 são poucas famílias que se sensibilizam e aceitam a doação. “Percebemos um receio em ter contato com os hospitais e, assim, há a negativa para a doação. Diante desta realidade, posso dizer que hoje é um dia especial. Essa captação irá salvar muitas vidas”, conta.  

O médico Flávio Pola, cirurgião torácico do InCor, que também participou da captação fala da importância da doação de pulmões neste último ano. “O pulmão é um dos órgãos com menor tempo de isquemia, pode ser comprometido pelo processo de morte encefálica e que, durante essa fase, pode estar infectado pelo coronavírus”, explica ele. “Além disso, em muitos casos é acometido por traumas e nos casos de intubação, pode apresentar efeito deletério. Tudo isso contribui para que redução de doadores”, diz.

Dr. Pola explica que devido à pandemia, alguns procedimentos são adotados para garantir a segurança do receptor. “É realizada uma avaliação prévia dos casos positivos para a covid-19 na região onde o paciente está internado, é feito o teste RT-PCR e em alguns casos pedimos uma tomografia de tórax”, enumera.

Ambos os médicos relatam que de modo geral, os índices de aproveitamento dos órgãos captados no Brasil ainda é muito baixo. Do total de corações doados, cerca de 8% têm sucesso para transplante. Já no caso dos pulmões, o número é ainda menor, varia de 3 a 3,5%.

No decorrer de 2019, a CIHT do HSV registrou 11 doadores. Em 2020, mesmo diante da pandemia, o hospital teve a sensibilização de 10 famílias que aceitaram a doação de órgãos de seus entes queridos.

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