Mais comum do que parece, a síndrome causa dor, sensibilidade ao frio e mudança na cor da pele
É nessa época do ano que o frio chega, os termômetros caem e as opiniões se dividem entre os fãs do frio e os saudosos do calor. Mas, independentemente do time em que você está, uma coisa é certa: o inverno chegou com força total. Junto com as temperaturas baixas, vêm também os velhos conhecidos da estação, como gripes, resfriados, alergias e outras doenças que costumam se agravar com os dias mais gelados. O que nem todo mundo percebe é que esse período também pode revelar sinais sutis de condições de saúde mais sérias. Um exemplo é a Síndrome de Raynaud, uma doença silenciosa que afeta a circulação nas extremidades e merece atenção.
“A Síndrome de Raynaud é uma condição caracterizada por espasmos nas artérias, que reduzem temporariamente o fluxo sanguíneo, principalmente nas mãos e nos pés. Em alguns casos, outras regiões também podem ser afetadas, como os lábios, as pontas das orelhas e até mesmo partes do nariz. Esses espasmos costumam ser desencadeados por exposição ao frio intenso ou estresse emocional, provocando mudanças na cor da pele, sensação de formigamento, dormência ou dor nas áreas afetadas”, explica o angiologista e cirurgião vascular, Jamil Jorge Abou Mourad.
Os sintomas costumam se manifestar por mudanças na coloração das extremidades, principalmente dos dedos das mãos e dos pés. É comum que essas regiões passem por uma sequência característica de cores: branco, azul e, por fim, vermelho. Durante ou logo após as crises, o paciente pode sentir formigamento, queimação e uma sensação intensa de frio nas áreas afetadas. Em casos mais graves ou persistentes — especialmente quando associados a doenças autoimunes como lúpus, esclerodermia ou artrite reumatoide — podem surgir úlceras dolorosas e de difícil cicatrização, que afetam de forma significativa a qualidade de vida.

A área afetada pode ficar pálida ou branca devido à diminuição do fluxo sanguíneo
“A doença é frequentemente desencadeada pelo frio, especialmente em jovens, quando surge de forma isolada e sem causa aparente. Já em pessoas acima dos 50 anos, o surgimento dos sintomas deve ser investigado com mais cautela, pois pode estar relacionado a condições reumatológicas, caracterizando o Raynaud secundário, que exige acompanhamento médico”, ressalta o especialista.
O diagnóstico é, em sua maioria, clínico e realizado com base nos relatos do paciente e na observação de sinais característicos, como cianose transitória: uma coloração azulada ou arroxeada da pele que costuma desaparecer aquecimento. A atenção deve ser redobrada diante do surgimento de lesões nas polpas digitais, pois podem indicar complicações mais sérias da circulação.
O tratamento medicamentoso é indicado apenas para os casos mais severos, geralmente associados a doenças reumatológicas, podendo envolver o uso de vasodilatadores. Já nos casos em que há apenas alteração de cor que desaparece com o calor e sem dor ou lesões, a conduta costuma ser apenas de observação e acompanhamento. Embora não exista uma forma de prevenção definitiva, alguns cuidados são essenciais para controlar os sintomas e evitar complicações. Evitar a exposição ao frio, proteger mãos e pés com luvas e meias adequadas, e evitar traumas repetitivos nas extremidades são atitudes importantes no dia a dia.

Angiologista e cirurgião vascular, Jamil Jorge Abou Mourad